sábado, 31 de dezembro de 2011

Analfabetismo funcional e internet

Antes de adentrar ao tema do título (rs...), cumpre uma breve atualização. Há nove meses não posto nada no blog. Daria uma nova gestação... hahaha!!! Mas, o fato é que muita água passou por debaixo da ponte este ano. Meu filho nasceu (S2), mais um edital para o MPF saiu (!!!), retomei as aulas de italiano, saí do trabalho, voltei a morar na casa dos meus pais e me vejo animada com a perspectiva de construir minha casa! Ufa! Não foi pouca coisa... Tudo isso e mais a preguiça que me é peculiar me impediram de postar.
Hoje, contudo, mais precisamente agora, me deu vontade de escrever. E me deu vontade de escrever porque li muito. Li muita coisa boa, li muita coisa lixo, mas, acima de tudo, li muita coisa estapafúrdia. E o reino das bizarrices são os comentários dos leitores em qualquer blog ou site de notícias que seja. Misericórdia! Fico embasbacada com o que as pessoas comentam. Ao ler qualquer texto que seja, a pessoa tem que ser capaz de compreender o que o autor escreveu, quais as ideias centrais e qual a conclusão. Para dar um passo além, deve conseguir refletir sobre o que foi escrito, filtrar e reter o que considera bom, criticar fundamentadamente o que considera ruim, inadequado ou incorreto e elogiar o que é digno de nota.
Contudo, o que se observa nesses "comentários" é uma verborragia desconexa, muitas vezes carregada de ódio e preconceito, mas que, pior, muitas vezes não tem nada a ver com o texto comentado, ou então demonstrando a mais absoluta incompreensão do mesmo. Às vezes até penso "não, essa pessoa só pode estar de sacanagem..." ou então leio o texto novamente para me certificar de que lemos MESMO o mesmo texto. Seriam esses comentários fruto da diarréia mental de alguns alucinados? Não (na verdade, alguns são.. rsrsrs...), são fruto do analfabetismo funcional que sempre foi mascarado aqui no Brasil mas que se revela plenamente com a "democratização" da internet. Não estou falando de "inclusão digital", não, estou falando da possibilidade de todas as pessoas que acessam a internet emitirem "opiniões" sobre o que quer que seja (tenham algum conhecimento ou não sobre o assunto), muitas vezes sob o manto asqueroso do anonimato. E o analfabetismo funcional do qual falo não está restrito à população que não teve uma boa educação, estou falando de gente que tem um diploma na mão e que é incapaz de interpretar um texto.
É triste ver que muitas vezes um excelente conteúdo é esvaziado em uma discussão ridícula, que um autor é escrachado por quem nem entendeu o que ele disse e também que muitos se aproveitam para converter discussões interessantíssimas em picuinhas partidárias, denominacionais (no meio evangélico), ou jogar tudo na vala comum da "opressão" e do "preconceito".
Sempre tem aquele mala "100% politicamente correto", que, no fundo, é só um demagogo ou então um baita de um iludido, que tenta a todo custo provar a sua neutralidade em assuntos essencialmente polêmicos ou a sua adesão às "causas" da moda. Também tem sempre aquele que quer criar celeuma onde não existe, só para aparecer. E também há os mal-intencionados, que comentam apenas para incitar o ódio e a intolerância. De todos, ainda, o pior na minha opinião é aquele que não entendeu patavinas do que leu. É pior porque revela a triste realidade de uma grande parcela da sociedade que, se não compreende um texto, não é capaz de compreender os discursos que ouve todos os dias e, assim, é presa fácil para toda sorte de aproveitadores, sejam políticos, sejam religiosos, sejam patrões, sejam familiares...
Assim, seguimos podendo nos expressar o quanto e da forma que quisermos (pelo menos por enquanto), desde que tudo não faça o menor sentido e nem acrescente nada. Melhor seria se fechassem os comentários?

quarta-feira, 30 de março de 2011

As 5 fases do luto de uma concurseira inveterada

Acabei de me dar conta de que fiquei 6 meses sem postar nada no blog e nem contei, agora com meu retorno, que finalmente estou grávida! Sim, gravidíssima! O meninão chega ao mundo no início de julho!
Nesse tempo fiquei como moderadora dos fóruns “Tentando há mais de 1 ano” e “Bebês de Julho/2011”, ambos do Baby Center. Recentemente abdiquei do meu posto, mas o tempo que passei encorajando e me divertindo com minhas amigas virtuais foi muito legal. Agora, com a barriga crescendo e o trabalho aumentando, a gente acaba mudando um pouco as prioridades. Meu lema agora é “menos é mais”.
Isso significa diminuir as coisas que tenho que fazer, diminuir os gastos (!?!?), diminuir o agito e, proporcionalmente, diminuir o estresse.
O choque que tive por saber que abriria concurso para o MPF ainda em fevereiro e o mar de frustração em que quase me afoguei foram essenciais para essa mudança de postura. Passei pelas 5 fases do luto para chegar a isso! Já ouviram falar das 5 fases do luto?
Primeiro senti muita RAIVA. Raiva dos desgraçados que, além de não estarem seguindo um calendário que eu já havia estudado meticulosamente e ao qual eu já havia me conformado, resolveram adicionar às provas mais 1 grupo com 3 disciplinas escrotas (como se não bastassem as 13 que já constavam do programa...). Depois senti RAIVA de mim, por não estar devidamente preparada para esse concurso nesse exato momento.
Aí veio a NEGAÇÃO... Era tudo especulação! Com certeza o concurso ia ser só em novembro mesmo, nem a Resolução tinha saído ainda, quanto mais edital! Mas essa fase me fez me sentir ainda mais estúpida, ainda bem que foi rápida e rapidamente entrei na fase da NEGOCIAÇÃO.
Diante desse quadro dantesco, era possível que nem tudo estivesse perdido. Mesmo eu não estando nem de perto preparada para as provas (esse não é um concursinho qualquer e, além disso, é o concurso da minha vida! Tenho verdadeiro temor reverencial por ele!), estando grávida, coincidindo o nascimento do menino com as provas, entre outras cositas mas, era perfeitamente possível que eu me concentrasse e me quebrasse de estudar 7 horas por dia e fizesse um cursinho intensivo, que eu não tinha dinheiro pra pagar e que consumiria todos os meus sábados até maio, das 8h00 às 17h00! Olha só como pra tudo tem remédio! Confesso que cheguei a imprimir o boleto do cursinho (ignorando completamente minha promessa de Ano Novo de não fazer nenhum curso jurídico este ano) e elaborar o quadro de estudos...
Aí, quando a ficha do absurdo de toda a situação começou a cair, veio a DEPRESSÃO (ou culpa). Era humanamente impossível o que eu estava pensando em fazer e, mesmo se fosse possível, eu sacrificaria minha chance de aproveitar com tranqüilidade e toda dedicação os principais meses da minha gravidez. Meu filhinho não merecia isso, eu não merecia isso. Ia acabar falhando nas duas coisas, no concurso e na preparação para ser mãe. Chorei muito e várias vezes vendo meu sonho ficar ainda mais distante de mim por pelo menos mais 4 anos... Tristeza era meu nome, frustração o sobrenome.
Ao fim e ao cabo, entendi que o que está feito, está feito, e eu não farei esse concurso. Que sirva de lição para que eu me organize, me discipline e me prepare decentemente e com afinco para o próximo concurso. Tenho 4 anos para isso, não é pouco tempo. Veio a ACEITAÇÃO.
Não vou falar que não me dói mais, mas não mais me abala. E, se por um lado, um sonho foi adiado, outro, e muito maior, está para se concretizar nos próximos meses! Ser mãe do Augusto certamente será sempre mais importante para mim do que ser a Dra. Procuradora da República.

"Eu não mereço a arte"

Certa vez, há alguns muitos anos atrás, quando meu irmãozinho estava iniciando o ensino médio, uma amiga sua muito espirituosa, no auge da sua sabedoria adquirida em 14 anos de vida, soltou a seguinte frase durante uma visita ao Museu do Olho, enquanto olhava uma obra, elaborada a partir de lençóis cor-de-rosa molhados: “eu não mereço a arte”.
Isso aconteceu há mais ou menos 10 anos e nem eu e nem minha família pudemos esquecer a genialidade da expressão irônico-sarcástica da menina, pormenorizadamente a nós relatada pelo meu irmão. Rio muito disso até hoje, e revivo sua frase pelo menos umas três vezes por semana...
Assim como ela, eu também não mereço a arte. Não “alcanço” 99% das obras com as quais tenho contato, não importa de qual seguimento artístico seja, se teatro, pintura, escultura, música, dança, whatever. Por muito tempo me questionei se eu era mesmo algum tipo de inculta incorrigível e me autoflagelei diversas vezes por apreciar mais boy bands do que música clássica e gostar mais de quadros simplesmente porque eles me agradam por serem bonitos e estar c... e andando para o que o artista queria expressar com aquilo. Não gosto de cinema francês e nem iraniano; gosto mesmo daqueles filmes que eu já sei o final, obviamente feliz, de preferência com gente bonita e trilha sonora bem comercial. Amo seriados, praticamente todos.
Quando alguém me pergunta do que eu gosto, digo sem receios agora que sou consumidora contumaz de todo lixo que os EUA produz, não apenas artístico. Bebo com gosto a “água suja do Capitalismo” (vulgo Coca-Cola), amo muito tudo isso com refri e batatinha! Enfim, sou uma vítima do imperialismo. Mas sou bem resolvida, isso não me incomoda mais.
Na realidade, mais do que uma questão de cultura e educação (afinal, modéstia à parte, não sou nenhuma alienada ignorante), apreciar a “arte” é uma questão sim de gosto pessoal. Quem quiser discordar, respeito. Mantenho essa visão um tanto quanto utilitarista. Para mim de nada adiantaria ter em minha sala um quadro de milhões de dólares se ele fosse, simplesmente, horroroso. As fotos do meu casamento, sim, não tem preço!

P.S. - a genial imagem acima foi copiada do site http://www.cartapotiguar.com.br/?p=6913, onde foi utilizada  em um artigo muito interessante de Daniel Menezes. Vale a pena conferir e refletir!